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Verticalização das cidades põe operários nas alturas

Qualificação
Lei exige regularização, com normas rígidas

O trabalho do profissional de acesso por corda é regido por pelo menos duas normas reguladoras: a NR-18 trata da construção civil e a NR-35, do trabalho em altura. Todo trabalho feito em uma distância do solo superior a dois metros é considerado trabalho em altura e deve obedecer aos mesmos procedimentos dos realizados no topo dos edifícios: o uso de equipamentos de proteção, o manuseio de duas cordas e toda a ancoragem (fixação das cordas na edificação).

“Qualquer profissional que vá fazer um trabalho em altura precisa de um treinamento mínimo de oito horas. O problema é que quase ninguém obedece isso”, diz Joenice Molina, responsável pela parte de treinamento da JCB Soluções Industriais. Já Eduardo Gobo, coordenador da parte técnica da empresa, diz que o treinamento para alpinistas industriais é ainda maior: 40 horas. “A certificação dura três anos e tem três níveis de capacitação. Ela é feita por um auditor externo, então nem todo mundo que faz o treinamento é aprovado, como em alguns cursos.”

Basta dar uma volta pelos bairros Ecoville e Campo Comprido em uma ensolarada manhã de quarta-feira para vê-los por aí. Dependurados apenas por cordas às vezes um banquinho para descanso,
trabalhadores fazem todo tipo de trabalho nas fachadas dos novos condomínios que se erguem na parte Oeste da cidade. E não apenas por ali. O trabalho de acesso por corda, também chamado de alpinismo industrial, é uma demanda cada vez mais frequente com a verticalização das grandes cidades, e ganha espaço no mercado pelo custo-benefício e pela agilidade no serviço.

A Associação Nacional das Empresas de Acesso por Corda (Aneac), que fornece certificação necessária e reúne e difunde informações sobre o setor, não sabe precisar quanto o alpinismo industrial cresceu no país, mas é possível ter uma ideia se analisados os dados da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR) sobre a produção imobiliária em Curitiba.

Segundo os dados, entre 2008 e junho de 2014, Curitiba ganhou 771 novos edifícios residenciais e comerciais. Repare que esses números desconsideram a quantidade de estruturas industriais, viadutos e estádios esportivos que foram construídos no último ano. Ou seja, mostram apenas uma parte grande de um todo ainda maior.

Some-se isso à exigência de algumas empresas em fazer limpezas periódicas – fábricas da indústria alimentícia precisam ter limpeza da fachada e chaminés a cada três meses e prédios devem ser lavados a cada dois anos, por exemplo e aos outros serviços que devem ser feitos em prédios pelo lado de fora , como reparos, pinturas, inspeções e mudanças, e podemos começar a entender porque as empresas que prestam o serviço de alpinismo industrial em Curitiba estão em alta.

Existem duas certificações para trabalhos de acesso com corda: uma nacional, fornecida pela Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção (Abendi), e uma internacional, fornecida pela Industrial Rope Access Trade Association (Irata). Empresas ou construtoras geralmente exigem uma dessas duas certificações, explica Mailson Vieira, alpinista e sócio-proprietário da Pentágono, que presta serviços de alpinismo industrial na cidade.

Vieira conta que um alpinista é bem melhor remunerado que um operário que trabalha com andaime, por exemplo, o que pode encarecer o serviço, mas que a diferença tende a ser compensada pela agilidade e segurança do trabalho. “A grande vantagem de um trabalho certificado como esse é que os profissionais são muito melhor capacitados e sabem fazer serviços em altura que um profissional que use o andaime pode não saber. Além disso, o empregador tem que pagar o aluguel do andaime e a diá­­­ria do profissional, e o andaime limita muito a mobilidade”, diferencia.

Adrenalina e bons salários
Calmamente fazendo a limpeza da fachada do 12.º andar de um prédio no Campo Comprido, o alpinista Vinícius André Brixel, de 23 anos, conversa com os amigos enquanto ouve no radinho os seus artistas favoritos: Charlie Brown Junior, o Rappa e Filipe Ret. “O que eu mais gosto nesse trabalho é o ambiente. Todo mundo faz o que gosta e ganha dinheiro com isso”, diz. Ele é profissional de acesso por corda há seis anos.

Brixel trabalhava com serviços gerais na área industrial quando surgiu a oportunidade de fazer o curso para capacitação Irata. “A remuneração é diferenciada, estamos com serviço até o final do ano e tive a oportunidade de aprender mais sobre o alpinismo.” A modalidade esportiva, aliás, virou hobbie. “É o que eu faço agora nos fins de semana.”

Mailson Vieira é alpinista há oito anos e trabalhava para a Petrobras quando resolveu montar o próprio negócio. “É um serviço para quem gosta de adrenalina, mas o bom é o silêncio”, diz. A remuneração de um alpinista industrial predial pode chegar a R$ 5 mil por mês, e até R$ 10 mil na área da indústria, ao passo que um profissional que trabalha em andaime ganha em média R$1,5 mil.

E o medo? “O medo é o que te faz ter segurança. Quem fala que não tem medo tem que tomar cuidado, porque é aí que os erros acontecem”, resume Vinícius Brixel.

Fonte: Gazeta do Povo

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